domingo, 29 de novembro de 2009

PÁSSARO AZUL, PAREDES RABISCADAS, PORTAS DE BANHEIRO, MUROS PICHADOS, O VAZIO ETERNO DESTES SITES INFINITOS...

[ ...algo que eu quero (agora) escrever... (parte II) ]




O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora (Blaise Pascal)



[3]



Imaculada Conceição

Faz alguns dias e eu tweetei pela primeira vez[1]. Eu não pretendia "seguir" mais esta... moda? Uma colega professora me perguntou: você tem o twitter da secretária de educação? Dizem que ela [ou a equipe] sempre responde! Eu estava com uma dúvida que colega professor nenhum conseguia me dar a resposta. Bem, não era pra tanto perguntar à secretária de educação de nosso município – até porque acabei me virando na resposta em questão -; por isso, não vi, a princípio, nenhum interesse em entrar pro Twitter (além do mais, de meus contatos do mundo presencial, poucos estão lá, e dos que estão, ainda menos são os que tweetam com frequência).
Um dia, porém, a curiosidade tomou conta de mim, fui até o site, coloquei minha conta do Google/Gmail (pra adicionar contatos) e lá estava eu, “seguindo o pássaro azul”...

Falei aqui sobre Twitter por conta de meu texto anterior sobre correspondências internautianas (clique aqui). Lá, eu falei sobre ter um interlocutor que poderia ser dito virtual, sem, no entanto, sê-lo de todo, já que se trata de uma pessoa (mesmo quando esta é dissimulada num “fake”, ainda assim é uma pessoa... apenas exercendo sua capacidade “fraudulenta”) real, de carne, osso, sangue, sentimentos, dores, alegrias, tristezas, dúvidas etc., do outro lado da fala. Mas acabei não falando: e quando escrevemos em lugares como, p.ex., este aqui, um blog - que talvez seja lido por alguém, talvez... por ninguém?

Enviar e-mail, bater papos em sites de relacionamentos etc. tem um interlocutor “real” (a não ser que seja spam ou um daqueles “e-mails boatos”, que levam um leve terror à população, como uma “lenda urbana”... estes se dirigem a quem abrir e ler... qualquer um... ninguém...); mas, e escrever em sites e blogs ou microblogs (como o Twitter)? Há uma virtualidade no fato que é apenas uma possibilidade o ouvinte de nossa fala. Quantos textos, quantas milhares de imagens não estão por aí, navegando perdidos nos espaços infinitos da internet? Certo, há sites e blogs com um público específico (e fiel, como nas comunidades online); e no Twitter muitas vezes nos dirigimos a alguém em particular, mas, ainda assim, grande parte do que está por ai (e por aqui) dirige-se a um público “possível” (verdadeiramente, virtual!).


Ora, não haveria aí também uma similaridade com nossas vivências precedentes, anteriores ao mundo das virtualidades digitais? Crianças, idosos, doentes mentais, prisioneiros, vândalos, artistas etc. muitas vezes gostam de tomar paredes e mais paredes com suas palavras, garatujas, desenhos, signos... Poetas e escritores escrevem muitas vezes pra “ninguém”. Escrevem e rasgam. Ou engavetam... Esta vontade humana de se expressar, de falar, de escrever (neste caso, certo, depois do mundo letrado e para os que tiveram a sorte de se tornarem letrados) não é nova! Mudaram os meios? Talvez só isso... As pessoas falam em “revolução da internet”, do mundo digital, virtual etc., mas eu só vejo uma continuação de nossa humanidade. (Inter)Relação ou simbiose homem-máquina? Sim. Algumas vezes... Mas o que ainda é mais forte é a relação homem-homem e a máquina intermediando. Ou é o homem com ele próprio. Ou é o homem com outro humano...

Escreve-se “para ninguém” - ou "pra qualquer um" - quando se enchem paredes etc. Como quando se é criança – eu mesma, em quantas paredes não deixei minhas garatujas? -, ou em alguns casos da velhice avançada... - como minha mãe já idosa(4) pelas paredes da sala de estar; como os confinados (ou não) nos manicômios, como os detentos em suas celas, como os pichadores dos muros urbanos, como o anônimo em seu ato solitário que senta no vaso de um banheiro público e deixa lá, na porta, seus registros gráficos – misto de vandalismo, poesia, desabafo, necessidade básica da natureza humana de se expressar, de se comunicar com não importa quem...



Já me diverti (e refleti) muito lendo o que esses "poetas do anonimato" escreveram. Na faculdade de filosofia do Rio (IFCS/UFRJ), p.ex., na época em que estudei por lá, as portas dos banheiros eram plenas de reflexões, entre outras banalidades comuns a todos nós humanos (declarações de amor, manifestações de tesão, doçuras, sonhos, perversões...). Lembro de uma ocasião em que um artista plástico levou umas portas de banheiros (acho que da Central do Brasil, mas não tenho certeza... faz tempo...) para expor. Na exposição teve público leitor certo. Mas o cara que escreve nas portas dos banheiros públicos escreve “para ninguém” e “para todo mundo”. Desabafam, refletem, poetizam, xingam, criticam, erotizam, enviam recados... É apenas a vontade humana de se expressar, falar, gritar...


Assim como é uma vontade humana ouvir o que o outro tem a dizer. Pode ser que aquela imundice vândala não seja nem lida por ninguém, mas você põe o traseiro no vaso e lá estão as palavras, os desenhos, os signos, os rabiscos, os grafites etc. gritando pra você! Alguém lerá...
Em algum momento a imundice vândala de uma pichação urbana te tocará...




Certa vez, me emocionei muito ao ler, de dentro de um ônibus, escrito no alto de uma das paredes do Cais do Porto do Rio, uma sequência de banais pichações que terminavam com esta singularidade: “amanhecendo”... Pensei neste momento do solitário pichador. O fim da parede, o fim da escuridão da noite que o protegia da ilegalidade de seu vandalismo, o fim de suas palavras, de sua fala... por ora...


Eu, particularmente, nunca tive vontade de deixar um único ponto num desses espaços inusitados da fala humana - ao menos, não depois de adulta... Quando criança, sim. Eu escrevia pelas paredes de minha casa, pelos muros, eu deixei uma poesia no telhado quando consegui subir até lá... Eu escrevia cartinhas pra Deus. Eu as colocava atrás da "Santa Ceia", que ficava sob a mesa das refeições familiares. O quadro, uma reprodução da obra de Leonardo Da Vinci, graças a uma inclinação de alguns graus, aguentou o quanto pode minhas palavras ao Santíssimo. Um dia, porém, o bendito quadro tombou, derramando numa imundice só dezenas de bilhetinhos e cartas pelo chão da cozinha. Minha mãe respeitou, não leu, quis apenas saber de quem era a traquinagem!
Ficando eu proibida, a partir de então, de usar o “espaço sagrado”, passei a enterrar minhas correspondências ao Divino no canteiro de nossa casa. A infância se foi, mas a vontade de escrever (e ler o que as pessoas escrevem), não. Às vezes, é vontade de escrever para um “público certo”, para um interlocutor (ou interlocutores) definido, às vezes, é vontade de escrever “pra ninguém”... ou pra quem aparecer... e ler...


Eu coloco: “Bom dia, twitteiros!”: a quem me dirijo? A todos que me “seguem’’? Ou a ninguém? E aqueles a quem eu sigo quando escrevem? ...não importa... o que importa? Vou lendo os tweets que me chegam (e escrevendo os meus) como frases nas portas dos banheiros públicos... como as pichações nos muros da cidade, nos bancos dos coletivos urbanos... como as paredes dos manicômios... casas que tem crianças e velhos... as celas dos presídios... blogs, sites e demais sítios online que carregam milhares e milhares de palavras, imagens, informações... Eu escrevo neste blog, eu tweeto no meu microblog palavras... palavras... palavras... palavras... palavras... Paredes, muros, portas de banheiro virtuais...[2] Eu (per)sigo o pássaro azul...

[ O pássaro azul do Twitter ]


[ O Pássaro Azul, peça de Maurice Maeterlinck (L’Oiseaux Bleau); aí na imagem, a versão americana (The Blue Bird) filmada na década de 40 com Shirley Temple e os efeitos especiais de um cara que entrou pra história da animação, Walter Lang. Vi este filme quando criança, na Sessão da Tarde, e o revi há alguns meses, na companhia de minha mãe - que era fã do filme e da protagonista, cujos cachinhos ela tentava reproduzir em meus louros cabelos de menina -, um pouco antes dela falecer... Hoje, 24/11/09, dia em que escrevo este texto, faz exatamente três meses... ]


NOTAS:

[1] Manuscrevi este texto em 24/11/2009 (pouco depois de tweetar pela primeira vez em 19/11/09), e o postei no blog, salvando-o como rascunho, em 29/11/09. Mas só hoje, 25/01/2010 é que o tornei público - embora a data que conste seja ainda a do rascunho feito em 2009! É verdade que eu podeira (re)postar com a data atualizada, mas... achei legal esta do blog de preservar a data em que postamos o texto pela primeira vez.

[2] Recentemente, uma colega professora me enviou um manual online sobre o Twitter - “Tudo o que você precisa saber sobre o Twitter (você já aprendeu numa mesa de bar)” - e eu achei o site “Twitter Brasil” [clique nas imagens laterais para entrar nos sites], neles descobri – e no próprio Twitter – umas definições bem divertidas: “Twitter é, no final das contas, uma mesa de bar”; “É um radar captando o que milhões de pessoas estão pensando/fazendo naquele momento; “É um confessionário em praça publica”; “É como um pátio de hospício, cada um falando ‘sozinho’, eventualmente alguém responde”; “É fruto do amor proibido entre o scrap do Orkut e o MSN” etc. etc. etc. Vejo que tem de tudo por lá, de autopromoção a propaganda (velada, mas nem tanto) política - aliás, há um verdadeiro bombardeio de propagandas dos mais variados produtos e serviços -; de citações literárias e filosóficas a "pornopiadas"; de links educativos ou informações úteis a bobagens inúteis - embora algumas vezes divertidas! -; de notícias de última hora a jornalismo tardio; enfim, todo tipo de divulgação, confissão, desabafo, provocação, palavras poéticas, passos da rotina diária, pessoal ou profissional - que muitas vezes se mesclam, numa mistura de público e privado - etc. etc. etc. 
Por isso as definições dos que usam o Twitter são muitas... mas minha primeira impressão - assim entrei - foi esta, a da correlação entre os grafismos e escritos espalhados pela cidade – seja nos espaços coletivos da urbanidade, seja no espaço privado de nossos lares, celas etc. - e tudo que é lançado na imensidão destes espaços infinitos, a Internet...

[3] Para quem não conhece, esta é uma das falas do Profeta Gentileza (José Datrino) de seu “livro urbano”, cujas páginas foram escritas nas pilastras de um viaduto no Centro do Rio. Eu cheguei a pegar várias vezes ônibus com ele pro Centro, na Av. Brasil, no ponto do bairro onde moro (e ele morou por uns tempos...). Uma figura enigmática, com sua túnica branca e imagens coloridas, sua longa barba, seu discurso mítico-místico, seu profético estandarte...

[4] "Velhice avançada"? Esta quarta nota, acrescento agora, em 2010, só pra dizer que, após a morte da mãe de Roberto Carlos, aos 96 anos, e da mãe de Chico Buarque de Holanda, aos 100 anos, vejo que minha mãe era até "nova" quando faleceu, já que, pela idade, bem poderia ter sido filha de uma delas!


Imaculada Conceição







domingo, 22 de novembro de 2009

...ri muito quando achei esta imagem na net... :)))

...algo que eu quero (agora) escrever...



Imaculada Conceição


Tenho o que Nietzsche definiu ser um “espírito grosseiro”! Em tudo e em todas as coisas vejo antes o “universal”, o que compartilhamos, o que temos “em comum”, a similaridade etc., do que a “diferença”, o que nos distingue, o que nos diferencia, portanto, o que nos “separa”. Não que eu não seja capaz (creio...) de ver ou de admirar a “diferença” e a “multiplicidade” (conceitos caros a Nietzsche, tanto quanto aos pensadores pós-modernos e outros viés daqueles que pensam nossa contemporaneidade), mas meu espírito vai logo procurando (e achando) algo que me faz, que nos faz “irmãos do sol e da lua” (como diria São Francisco de Assis). É assim que eu não encontro muita diferença entre “conversar” ou “corresponder-me” em um mundo que se convencionou chamar “virtual” (o da internet, p.ex.) e o mundo real (chamado presencial)! Afinal, que diferença (“essencial”!) há entre o hábito de manter correspondências, que as pessoas trocaram durante séculos e séculos, pelos mais diversos meios, e, agora, os trocados pelos e-mails, pelos recados nos sites de relacionamentos (Orkut, Twitter, MSN, Myspace, Facebook etc.) etc.? Assim como no habito de muitas vezes se preservar (“salvar”) tais correspondências em pastas, “doc.”, sítios on-line etc., como antes estas correspondências eram guardadas em gavetas, baús etc.? Sim, há diferenças (nos “meios” empregados), mas a essência desta elementar necessidade íntima dos humanos de se corresponderem, se comunicarem, trocarem afetos, experiências, informações etc. ainda permanece “a mesma”, não? Espanta-me quando alguém diz “esqueça isso aqui, vá procurar seus amigos reais!”! Como se conversássemos com máquinas, programas de computadores ou com os personagens meramente ficcionais de jogos virtuais on-line, e não com gente (de verdade, de carne, osso e sangue, com um corpo, sonhos, dores, alegrias, tristezas, contradições, dúvidas etc.) do “outro lado”... ...do outro lado... ...do outro lado...

[...infelizmente não são todos os humanos que têm acesso a esta possibilidade de nosso mundo contemporâneo de trocas, de intercâmbio, de comunhão...] ...do outro lado...

Talvez seja meu espírito por demais “grosseiro” mesmo, pois não me deixa ver grandes diferenças e me faz insistir em chamar este mundo AQUI também de real! Sei que não sou a única... mas sei também que ainda causa um certo estranhamento em muita gente o fato deste mundo de mediações internautas - que chegou a ser definido de “virtual” - ser apenas mais uma face de nosso mundo real!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

AS COTAS RACIAIS SEGUNDO A MÍDIA...


[ De início, não havia pensado em postar aqui textos de outras autorias, mas, no Dia da Consciência Negra, creio que esta reportagem do Informe (on-line) Olhar Virtual, da UFRJ (Bolhetim 272 de 20/10/2009), que fala sobre a posição da mídia em relação às cotas, pode ser bem interessante para refletirmos... Imaculada Conceição ]

AS COTAS RACIAIS SEGUNDO A MÍDIA

Thor Weglinski


A sociedade brasileira ainda guarda uma herança da escravatura. Essa é a opinião do professor Muniz Sodré, da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, que participou na última quinta, dia 15, do seminário “O Papel da Mídia no Debate sobre Igualdade Racial” na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A palestra teve o propósito de debater o papel dos veículos de comunicação nas questões relativas a desigualdades raciais e a atuação da mídia numa sociedade democrática, seus limites e responsabilidades. Além de Sodré, estavam presentes Miriam Leitão, colunista de economia do Jornal O Globo e Rosângela Malaquias, integrante do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT).
Segundo Sodré, existem rótulos para os negros na população, que também estão presentes na mídia. Exemplos são os papéis desempenhados por atores negros em telenovelas, na maior parte das vezes como empregadas domésticas ou motoristas, além de serem sempre objetos de ciência nas pesquisas e trabalhos de antropólogos e sociólogos, porque ainda são estereotipados como “mudos”. Para o professor, a grande arma a favor do combate à descriminação racial é a aproximação, ou seja, quebrar as barreiras impostas aos negros e aproximá-los de locais antes quase não frequentados por eles, como, por exemplo, universidades, grandes empresas e mídia.
Perguntado sobre o papel da mídia nas ações afirmativas para igualdade racial no Brasil, Sodré afirmou que os meios de comunicação constroem e impõem as realidades. Logo, são de suma importância para ações afirmativas contra a desigualdade. Por isso, é necessário dar voz a pequenas dissidências favoráveis à mobilização social dos negros, como a revista Raça.
A respeito das cotas, Sodré considera que a mídia se manifesta de forma quase sempre desfavorável. Segundo pesquisa de Rosângela Malaquias, do CEERT, a maioria das grandes empresas de comunicação no Brasil é contra a medida. Os jornais Folha de São Paulo e Estadão e a revista Veja, três dos maiores veículos comunicativos do país, comentam o assunto, mas suas reportagens são 100% contrárias, argumentando que a ação fracassou em outros países, e que a solução para a desigualdade não está no ensino superior, mas sim no ensino básico de qualidade para todos. O O Globo é a exceção, porque exibe mais matérias sobre o tema e tem um percentual mais equilibrado nas tendências das opiniões: 56,5% contrárias e 40% a favor. Os veículos contrários às cotas nunca abordam o ponto de vista de fontes favoráveis, como o arquiteto Oscar Niemeyer, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e os atores Lázaro Ramos e Wagner Moura. Para o professor, a lei de cotas é positiva porque melhoraria as condições sociais dos negros, além de aproximá-los das universidades frequentadas, em sua maioria, pelos brancos.
Miriam Leitão, do jornal O Globo, afirmou no debate que a classe média brasileira tomou um susto quando a lei das cotas entrou em discussão, pois achou que a ação iria dificultar a entrada dos seus filhos nas universidades. Os jornais então refletiram esse pânico em suas matérias, totalmente desfavoráveis à medida. A jornalista se disse favorável às cotas, pois acredita que são uma ação contra a desigualdade social.
A exclusão dos negros e pardos dos meios de comunicação brasileiros ganhou foco no debate. Dificilmente se encontram pessoas que não sejam brancas em capas de revistas, protagonizando novelas ou na apresentação de programas televisivos. A TV Record, pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), exibe em seu programa Fala que Eu Te Escuto, pequenas montagens condenando as religiões de origem africana, relacionando-as com o demônio e mostrando que a salvação está na IURD. A sociedade brasileira é desigual e a mídia é o seu reflexo. Na atualidade, a novela da Rede Globo Viver a Vida tem uma protagonista negra, a atriz Taís Araújo, e a revista Cláudia começou uma campanha para diversificar suas capas e abordagens, incluindo o público negro na pauta, fatos que simbolizam pequenos passos num longo caminho para a igualdade racial nos veículos de comunicação.
Ao final do debate, foi opinião predominante entre os presentes que a mídia conseguirá atuar em favor de ações por igualdade racial quando houver a democratização dos meios de comunicação, hoje monopolizados por empresas favoráveis à permanência da desigualdade.

É PRECISO APOSTAR!

[ O QUE PENSO SOBRE COTAS RACIAIS... ]

[ Aproveitando o dia de hoje, aniversário da morte do líder negro brasileiro, Zumbi dos Palmares (20 de novembro de 1695), quando se comemora o “Dia da Consciência Negra”, vou postar um texto sobre as polêmicas “cotas raciais”, escrito em meados de 2006 e enviado em 04/02/2007 para uma revista de educação editada no sul do país, Pátio: Revista Pedagógica – fui notificada, no dia seguinte ao envio, 05/02/07, que o texto tinha sido “recebido e encaminhado para apreciação da comissão editorial da Pátio”; até hoje, porém, aguardo a resposta... ;) ]




É PRECISO APOSTAR!

"Sim: mas é preciso apostar. Não é coisa que dependa da vontade, já estamos metidos nisso. Qual partido escolhereis então?" (Blaise Pascal - matemático, pensador e polemista do séc.XVII).


Imaculada Conceição

Não sou especialista em "cotas raciais", mas, como cidadã e educadora é meu dever (e de todos) refletir a respeito. Conheço boa parte dos argumentos que circulam por aí. Embora ambos, tanto os contra quanto os a favor, sejam bastante fortes, convencer alguém que pensa de um modo passar a pensar de outro parece difícil... Só que eu nem sempre pensei como eu penso agora. Não que eu chegasse a ser "contra as cotas". Mas, confesso, achava um exagero: "cotas raciais"! Por que não apenas cotas "sócio-econômicas" (para os menos favorecidos e oriundos das escolas públicas)? Os argumentos contra pareciam me convencer... Até que um "espanto", como se diz filosoficamente, me fez mudar de opinião! E foi exatamente um “discurso contra-cotas” que me abriu os olhos para o exagero. Não da política de cotas raciais, como eu pensava, mas da aversão à política de cotas raciais! É apenas uma proposta temporária. Uma tentativa. Uma aposta numa possibilidade de mudança para melhor (o que não invalida a urgência de profundas reformas na educação em geral - sobretudo no sistema público de ensino básico -, de uma melhoria na qualidade de vida dos cidadãos, na justa e equilibrada redistribuição sócio-econômica etc.). E não algo "contra a Constituição", que vai tirar "direitos dos cidadãos" (isonomia na ordem jurídico-constitucional), lançar o "ódio racial numa sociedade não-racista", "acirrar conflitos raciais nas universidades", ocasionar uma "queda na qualidade do ensino superior", possibilitar o ingresso, "sem mérito" algum, de alunos (e professores) nas faculdades, formar "profissionais desqualificados" etc. etc. etc. etc. Em um momento, esse absurdo me tocou, e me tocou muito profundamente...


É difícil entender boa parte dos argumentos que são usados para derrubar a política de cotas raciais. Noutro dia, p.ex., num jornal de grande circulação (cuja referência infelizmente perdi), li o seguinte comentário: "é possível fazer inclusão social com mérito". A fala vinha de uma pessoa influente ligada a uma grande universidade e cuja proposta era introduzir novas estratégias de ingresso que, favorecendo a inclusão dos discriminados socialmente, evitasse, porém, a política de cotas (sobretudo as raciais). Mas de onde se tirou que a política de cotas insere pessoas "sem mérito"? E o esforço de anos desse cidadão? E o empenho no concurso? O cotista não vai ter de "ralar" como qualquer um de seus colegas para conseguir a vaga? Pois, no mínimo, terá de obter a melhor colocação entre centenas, milhares de outros cotistas (afinal, de quantos por cento é a população negra/parda/indígena no Brasil? Ou de oriundos do ensino público?)! Quem afirma que "é possível fazer inclusão social com mérito" está querendo dizer que quando se reserva um número de vagas (cotas) essas serão preenchidas provavelmente por pessoas "sem mérito algum" e que apenas estão ("espertamente") se aproveitando do fato de se incluírem na especificidade da categoria da cota - no caso das cotas raciais, o "simples fato" de ter a pele de uma determinada cor e/ou assim se declarar???

Outro estranho argumento. Apela-se para os "direitos iguais para todos": está na Lei! Mas não vejo em que a política de cotas fere a Lei. Pelo contrário, é pela igualdade de direitos que devemos ser a favor das cotas. Afinal, toda pessoa humana tem direitos iguais de participar da vida cidadã. E se há algo que vem impedindo um determinado segmento social de participar plenamente, é dever de todos buscar uma solução. E com urgência! É o caso das cotas raciais e/ou das cotas para alunos pobres e/ou das cotas para alunos oriundos da rede pública de ensino, visto uma solução definitiva (ensino público de qualidade, a hipotética eliminação dos preconceitos raciais, uma real melhoria na qualidade de vida dos cidadãos) ser uma política muito demorada e incerta... Assim, aplicando mal o entendimento dos "direitos iguais", há os que alegam que determinados grupos de pessoas - i.e., os não-cotistas - acabam sendo prejudicados (de um modo geral, são exatamente os não-cotistas que assim argumentam), enquanto outros - os cotistas - terão "privilégios", sendo, portanto, assim mais “favorecidos”. Mas quem afirma que as cotas retiram a igualdade de direitos (isonomia) não está refletindo bem o assunto. Pois se apenas um time consegue entrar no estádio e o outro fica barrado (por uma infinidade de motivos: históricos, sociais, étnico-raciais, políticos etc.) do lado de fora: onde está jogo democrático? Não haverá jogo, mas, ainda assim, haverá "vencedores"! O time que teve acesso ao estádio ganhará o jogo, enquanto o outro (pela ausência) perderá de WO. Onde a igualdade de direitos se apenas um time consegue comparecer? Onde o jogo democrático? É preciso a participação de todos para um verdadeiro e justo jogo. As cotas não são para facilitar o jogo, elas são para dar possibilidade ao jogo!

Há ainda aqueles que argumentam dizendo que a qualidade do ensino vai cair (só por causa da inclusão de cotas???). Como se os alunos que entrassem graças às cotas, ainda que oriundos de uma formação educacional com falhas e carências, não fossem "correr atrás do prejuízo" e se esforçarem para alcançar o nível de excelência exigido para sua formação. Quem não se esforçar, se dedicar aos estudos e à preparação necessária para sua formação universitária, não importa se é cotista ou não, se teve uma precária ou excelente educação anterior, se sua formação foi elitista ou veio da rede pública de ensino , se é oriundo de um segmento mais carente ou favorecido socialmente, corre o risco de não conseguir se formar (ou, ao menos, de se tornar um bom profissional). Além do mais, a qualidade do ensino em geral (seja público ou particular, "elitista" ou "popular") já vem caindo por uma série de motivos que não tem nada a ver com "cotas". Professores sabem muito bem que é grande o número de jovens, mesmo os de origem social mais abastada, com uma série de dificuldades de leitura, escrita, interpretação de texto, capacidade de julgar e pensar, de expressar-se com coerência e lógica etc. (sem contar o comportamental: desorientação quanto aos valores éticos, responsabilidade, respeito, cidadania...). É necessário repensar a educação e buscar caminhos; mas daí a responsabilizar a política de cotas por uma queda futura na qualidade de ensino...

Há outro argumento que só vim a conhecer muito recentemente. O que se baseia em estudos sobre a inexistência de raças para "provar" que não há racismo! Também sempre achei o conceito de raça (sobretudo "pura"!) a coisa mais louca já inventada pelos humanos - que não fazem outra coisa do que vir se misturando desde o início dos tempos, desde as origens das civilizações. Mas se é loucura e tolice instituir a existência de raças entre os humanos, não deixa de ser verdade (real) a existência de racistas (aqueles que acreditam que certas "combinações" deram "mais certo" do que outras!)! Portanto, fundar em razões a inexistência do racismo é não querer ver a realidade de frente, cara a cara. Isso não seria agir como os racistas? Afinal, que são os racistas senão pessoas que se baseiam em idéias completamente irracionais, embora (loucura total!) "fundadas" em razão?

Dois outros argumentos (que quase me pegam!) são de que a política de cotas pode causar mais preconceitos do que vantagens (p.ex., o risco de no futuro o profissional ser "desqualificado" por sua formação - tipo assim, "você só é engenheiro por causa das 'cotas'!") e que mais vale a inclusão por cotas sociais, favorecendo desse modo os mais pobres que não tiveram chances de uma melhor preparação devido à decadência do sistema público de ensino do que apelar para as cotas raciais (até porque, e isso faz parte do argumento, a quase totalidade dos alunos de baixa renda e oriundos do ensino público é de negros/pardos). Eu disse quase que me pegam... No início dos debates, quando me perguntavam se eu era a favor ou contra as cotas raciais, levando em conta os argumentos acima, achava de fato um exagero reservar vagas para pessoas de determinadas etnias, bastavam cotas para os oriundos das escolas públicas (que, "lóóóógico", já incluiria um grande número de negros/pardos/índios!)! De fato, quem pode ter certeza se a política de cotas étnico-raciais será eficaz mesmo ou não? E se deflagrar ainda mais preconceitos?
Mas quando eu soube que o Movimento Negro (em sua quase totalidade - e ainda bem que há divergências de opiniões, pois, como disse Nelson Rodrigues, "a unanimidade é burra": a multiplicidade possibilita a inteligência das decisões -) apoiava a política de cotas, eu, que sou de aparência branca ( - independente se tenho ou não uma ascendência negra - não é essa a questão! - Muitos brancos, que se posicionam contra as cotas, argumentam terem feito essa escolha não por "preconceito", visto serem descendentes de negros. Ora, e desde quando alguém coloca a foto de seus pais, avós, bisavós no currículo? Ou vão a uma entrevista de emprego levando sua família ou o mapa de sua árvore genealógica? Você vai com sua cara, sua pele, sua cor... E isso faz toda a diferença! - ); pois bem, eu que sou de aparência branca me vi no dever de apoiar. Afinal se os mais interessados na questão são a favor, o que posso eu dizer? Se fosse algo que os desabonassem, que os prejudicassem, que lhes causassem mais preconceitos ainda, eles não apoiariam (só por "esperteza" para entrarem fácil numa faculdade? Fala sério!). Assim como qualquer outra modalidade de cotas ou de direitos a grupos específicos: idosos, homossexuais, mulheres, portadores de deficiências ou cuidados especiais etc. apoiariam algo que os prejudicassem? Por exemplo, o direito à licença maternidade, mesmo que alguém, com fortes argumentos contra, chegasse perto de conseguir aboli-lo, não gritariam as mulheres a favor da lei? E os homens, mesmo que quase convencidos pelos eficazes argumentos deste desnaturado, vendo as mulheres se posicionarem pela manutenção de seus direitos, não escolheriam ficar do lado de suas esposas, filhas, mães, tias, primas, cunhadas, irmãs, amigas, colegas de trabalho...? As mulheres lutaram muito no passado para conquistar seus direitos, como ao sufrágio universal, que hoje nenhuma democracia pensa abolir.
Certo, as "ações afirmativas" (como as cotas), ao contrário, não são para perdurarem, são para, de modo imediato (e provisório), abrir novas oportunidades às pessoas, criando assim uma esfera pública mais plural e fraterna (isso sim é para perdurar!). Além do mais, a questão da política de cotas raciais foi antes muito estudada e discutida (e continua sendo) para que se chegasse à conclusão de sua importância no atual momento de nossa história; e o projeto de lei (nº 73/99) que tramita no Congresso Nacional não se restringe à regulamentação de cotas para negros (que, parece, é o maior alvo das objeções!), mas visa também aos oriundos de escolas públicas, abrangendo, portanto, questões étnicas, históricas e sociais.

Eficácia nas políticas públicas? Sim. Melhorias no ensino, sobretudo o fundamental? Sim. Mas essas e outras políticas, mesmo que eficazmente implantadas AGORA, quanto tempo precisarão para começar a dar frutos? Décadas? No mínimo.... No Brasil, essa esperança tem pelo menos séculos! Sim. A situação não é de fato nada simples. Tem o peso de toda uma história: a própria polêmica que a questão vem levantando já mostra isso! Mas se não aproveitarmos essa medida que agora se apresenta, o peso só irá aumentar, aumentar, aumentar... até arrebentar? Não é o que queremos! Não é um fosso de injustiças e desigualdades aumentando a cada dia o que queremos para nossas crianças e nossos jovens. Se dará ou não certo? Só apostando!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"ANIMAÇÃO TRASH": PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EM ANIMAÇÃO DE MEUS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL - 1o. sem. 2009

[...algumas destas primeiras experiências estão participando da Mostra Competitiva do Festival Anim!Arte 2009... :) ...não consegui postar todos os trabalhos apresentados... problemas no carregamento do YouTube!]




ANIMAÇÃO TRASH: NOSSAS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS PARTE I (sotp motion, pixilation, folioscópio etc.) 2009


COMIDA MALUCA (pixilation) 2009


FOME DO SABER (pixilation)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MINHA VAIDADE... ALGUNS DE MEUS TEXTOS "ACADÊMICOS" NA NET....

[ ...não consegui postar os links dos textos, mas, clicando nos links abaixo, chega-se às homes pages das revistas eletrônicas onde foram publicados... depois, é só procurar pelos textos... ;) ]




"Somos tão presunçosos que desejaríamos ser conhecidos por toda terra, e até pelas pessoas que vierem quando nela não estivermos mais, e somos tão vãos que a estima de cinco ou seis pessoas que nos cercam nos diverte e nos contenta"!
Blaise Pascal




Um olhar sobre o perspectivismo de Nietzsche e o pensamento trágico, Revista Trágica: Estudos sobre Nietzsche, 2º. Sem. de 2008 Revista Trágica> Estudos sobre Nietzsche




“Teu Deus será meu Deus”: A fé de Blaise Pascal de um ponto de vista pragmático, Cognitio-Estudos, julho/dezembro 2008 Revista: Cognitio-Estudos-PUC-SP




O indeterminado e a categoria do provável: Uma leitura dos milagres em Blaise Pascal, Revista Cognitio-Estudos, julho/dezembro 2007 Revista: Cognitio-Estudos PUC-SP


terça-feira, 20 de outubro de 2009

NA TERRA DA SAUDADE...


Como aprendemos e nos divertimos com nosso prêmio de viagem a Portugal


[Texto de 2008, originalmente um e-mail contando as novidades a um amigo "virtual", transformado em Relatório de Viagem entregue à Prefeitura do Rio. Esta versão simplificada foi solicitada posteriormente pela própria Prefeitura...]



As viagens são os viajantes. O que vemos não é senão o que somos.
Fernando Pessoa






Imaculada Conceição


Ano passado (2007), como preparativo às comemorações para o bicentenário da chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro (1808-2008), eu, professora de Artes da 6ª.CRE e minha aluna, Karoline Brum, ganhamos um prêmio de viagem a Portugal. Seu desenho foi o vencedor das escolas do município do Rio. A aluna Haymara Reis (7ª.CRE), autora da redação premiada sobre o tema, e sua professora orientadora, Kátia Cordeiro, de História, foram nossas companheiras de viagem, juntamente com as mães das meninas, Fátima e Jomária.

Encontrei-me com o grupo já no saguão do aeroporto (havíamos combinado de irmos todas juntas numa van da 6ª.CRE, mas, por motivos pessoais, precisei buscar outro meio de transporte). Lá, Gustavo, fotógrafo da Prefeitura, registrou o nervosismo dos últimos preparativos rumo a nossa lusa aventura, que às 23 horas de um sábado, 26de julho de 2008, dava início ao embarcarmos no Tom Jobim, no Rio...

O desembarque no aeroporto de Lisboa foi recepcionado por Margarida, nossa simpática cicerone portuguesa, e Luis, o discreto motorista que nos guiou pelos trajetos turísticos. Após um breve tour de veículo pela Lisboa histórica, fomos conduzidas ao Hotel Arts Vips, na estação Oriente, na área do Parque das Nações, onde se realizou a Expo 98. Agradável e bem situado, tínhamos ainda o prazer de avistarmos, à entrada do hotel, um interessante mural de azulejos pintados à la pop-art e dos quartos, uma bela vista do estuário do Tejo.





Chegamos num domingo à tarde (27/07) e aproveitamos o dia livre para conhecermos melhor o “sítio” (como falam os portugueses) onde estávamos. Passeamos pelo Parque das Nações, tiramos fotos à beira do Tejo e almoçamos no Centro Comercial Vasco da Gama. Minha primeira (e boa!) surpresa foi ver que os portugueses são bem mais parecidos com a gente do que apenas o fato de compartilharmos a mesma língua... O povo de lá se parece muito com o nosso. Passeando pelo Centro Comercial me senti num destes shoppings daqui. Certo, shoppings centers (estas “catedrais do consumo”, como se diz) são shoppings centers em qualquer lugar do mundo! Mas eu falo das pessoas que por lá (e também pelas ruas, pelos metrôs, elétricos, comboios etc.) circulavam. Tudo com cara de brasileiro! Mas, a maior de minhas alegrias foi mesmo dar de cara com o clima quente do verão lisboeta, o ambiente ensolarado, o céu lindamente azul... Se Fernando Pessoa disse que sua pátria era a língua portuguesa, eu, por meu lado, diria que minha pátria é o clima, o ambiente em geral, quente e ensolarado, onde um fascinante céu azul cobre um povo simpático, receptivo, misturado, multicultural... Onde houver um clima assim, estarei em casa!



Na manhã seguinte, Margarida e Luis chegaram cedo ao hotel (não sem antes dar tempo de nos deliciarmos com o “pequeno almoço”, como eles chamam o farto café da manhã) para nosso primeiro passeio oficial. Fomos conhecer o bairro histórico de Belém e seus belos monumentos: o Padrão do Descobrimento, a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, uma das maiores obras da arquitetura quinhentista, o estilo manuelino (fechado em nossa primeira tentativa de visita, retornamos depois...) etc.


No Mosteiro, surpreendeu-me o túmulo de Fernando Pessoa (o escritor português dos heterônimos: suas muitas faces literárias): um monumento um tanto sem graça (minha primeira impressão...), me lembrava aquele monólito do filme “2001: Uma Odisséia no Espaço”, o que contrastava com o pátio interno, o claustro, e o preciosismo de seus detalhes arquitetônicos.






Mas a idéia até que era boa, as faces remetiam aos heterônimos do poeta e numa delas líamos: “Não basta abrir a janela pra ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego para ver as árvores e flores” (Alberto Caeiro).

Na igreja do Mosteiro, uma parada para fotografar os túmulos de Camões e Vasco da Gama. Na saída, passamos para experimentar os famosos (e deliciosos!) pastéis de Belém e almoçarmos na praça...




Caminhamos pelo bairro do Chiado, pelo Bairro Alto, Bairro de Alfama - o mais antigo e pitoresco de Lisboa com suas ruelas, escadarias e roupas secando nas janelas e cuja arquitetura dos casarios me lembrava uma parte do Rio...



Fomos então ao Castelo de São Jorge, não sem antes, do miradouro, nos extasiarmos com uma das mais belas vistas panorâmicas da cidade de Lisboa e do estuário do Tejo! Muito linda Alfama (este bairro histórico, cujo nome deriva do árabe e significa “fonte d’água”) vista do alto, com seu traçado irregular e bonitos telhados. Subimos às torres do Castelo, passeamos pelas plataformas das muralhas...




Fomos também ao Museu dos Coches, à Fundação Calouste Kulbenkian, ao Museu da Cidade de Lisboa (onde conhecemos um pouco da história da cidade, o terrível terremoto que a destruiu em 1775 e sua posterior reconstrução). Alguns pontos só vimos de dentro do veículo turístico: a Ponte 25 de Abril, o monumento Cristo Rei que semelha nosso Redentor carioca, a Praça do Comércio...


Noutra ocasião, visitamos o Palácio de Queluz e seus encantadores jardins, freqüentemente comparados aos de Versailles. Lá como em outros palácios que visitamos, Mafra, Palácio Nacional da Ajuda etc., encontramos a presença da realeza portuguesa que em nossas terras aportaram: D. João VI, D. Maria I, D. Carlota Joaquina, D. Pedro I (ou D. Pedro IV, título que nosso imperador ganhou ao retornar a seu país e que deu nome a uma famosa praça do centro de Lisboa, apelidada pelos portugueses, do Rossio) etc.

Numa das noites, no Bairro Alto, visitamos uma casa de Fado, onde nos deliciamos com as canções sobre Lisboa, saudades, amores, desencontros, paixões tristes... e, claro, as gostosuras da culinária portuguesa! Os artistas manifestaram muita alegria em ver que éramos brasileiras. Dedicaram músicas em nossa homenagem... Achei tudo muito simpático! E saber que entramos nesta casa meio que por acaso... Diria... pelo “destino”? - que é o que significa a palavra “fado”, do latim “fatum”! Foi uma noite bem alegre! Comemos bem, nos divertimos, Jomária se empolgou e até cantou!


No último dia de visita guiada (31/07), fomos a Cabo da Roca (a ponta mais ocidental do continente europeu, assim definida por Luis de Camões: “Onde a terra acaba e o mar começa”). Em Sintra, a bela cidade que inspirara o poeta Lord de Byron, infelizmente deu só pra tirar umas fotos, comprar uns postais, uns suvenires... No veículo, recebemos um sedutor folder com informações dos pontos turísticos (castelos, palácios, museus, adegas etc.). Ficamos apreciando Sintra impressa no papel, enquanto seguíamos para Cascais...




Em Cascais, jantamos depois de irmos à praia... Em Ericeira (onde também há praias), havíamos almoçado sardinha assada (o prato favorito deles no verão, segundo nossa cicerone portuguesa), queijo, vinho...


E já que falo de comida, aproveito para contar nossa experiência com uma sobremesa portuguesa, “Leite Creme”, num restaurante no Centro Comercial Vasco da Gama, onde fomos quase que “ obrigadas” a provar, pois o garçom, não sabendo nos explicar o que era, disse que é o que nos serviria para conhecermos... Aceitamos. Garanto-lhes... Um doce pra lá de gostoso!


No dia livre (terça, 29), Karoline e Haymara, acompanhadas de suas mães, foram conhecer o Oceanário e andar de teleférico no Parque das Nações. Eu, a professora Katia e duas amigas suas, em passeio pela Europa, fomos a Óbido (nome de origem latina que, embora possa nos fazer lembrar de algo “macabro”, na verdade significa “cidade fortificada”), onde estão preservadas as ruínas de um castelo medieval e suas quilométricas muralhas!

Minha impressão geral foi a que eu disse no início... Nos shoppings, no metrô, pelas ruas me sentia no Brasil. Pelo povo, pelo clima (quente do verão lisboeta), pela língua, pela arquitetura (além de nossa lusa colonização, o Rio foi sede da Família Real portuguesa, que montou pra esses lados todo um cenário - arquitetônico, artístico, cultural etc. - bem a seu gosto, que incluía um gosto francês). As meninas se divertiam com tudo. E certamente aprenderam muitas coisas. Nas várias visitas aos museus, Karoline aproveitava e fazia esboços dos quadros e fotografava as imagens que ela gostava (ela me disse que era para umas idéias que estava tendo...). Hayamara mostrava-se atenta a tudo como que pensando que boa história aquilo não ia dar!

Enfim, hora de irmos embora... Em 1 de agosto, eu, Karoline e Fátima retornamos ao Brasil (a professora Kátia, Haymara e sua mãe permaneceram na Europa, para uma esticada a Roma). Nos despedimos de Luis e Margarida, que nos assessoraram até nosso embarque.


Na volta, o brilho do sol e o céu azul sobre o Atlântico deixaram minha alma ainda mais satisfeita... Não apenas pela volta ao lar, como pelo contraste com o ambiente da ida (durante a noite, as janelas fechadas, aquela escuridão mórbida dos corredores, as pequenas luzes no teto do avião pareciam velar uma noite interminável...). No aeroporto Tom Jobim, uma van da 7ª. CRE nos aguardava junto a nossos familiares ansiosos pelas novidades da terra que nos deixou de herança a palavra “saudade”...




Fotos: Imaculada Conceição, Karoline Brum e Katia Cordeiro