quarta-feira, 20 de julho de 2011

QUE ASSUNTO!



[ Um texto com mais um assunto interessante que achei na net... Agora, não estou muito a fim de pensar sobre, mas... quis publicá-lo (reproduzi-lo, mais precisamente) - já que não tenho postado os meus próprios escritos... - para um dia, quem sabe, eu o relendo... não me venha alguma ideia? (1) ]



Qual será o destino da sua alma digital?





Por Sumit Paul-Choudhury, da New Scientist
• Segunda-feira, 18 de julho de 2011 - 10h17


São Paulo - É um fato inexorável, como a própria morte. Com a popularização das redes sociais, cada vez mais detalhes do nosso dia a dia ficam registrados no ciberespaço. São informações variadas: desde um rápido registro no Twitter sobre o cardápio do almoço até uma foto postada no Facebook depois daquela animada noitada.

No ano passado, dois terços dos americanos armazenaram dados pessoais num servidor na nuvem, enquanto metade deles usou algum tipo de rede social. Eles publicaram textos e fotos que representam relacionamentos, interesses e crenças. De certa forma, esses dados mostram quem somos. Hans-Peter Brondmo, chefe de software social e serviços da Nokia, costuma chamar essas informações de "alma digital". Muita gente ainda não se deu conta, mas somos a primeira geração a criar um vasto legado digital. E nem todo mundo sabe ao certo como lidar com ele.


Extra: Sites permitem deixar testamentos na web

Até o final deste ano, mais de 250 mil usuários do Facebook vão morrer. Graças ao baixo custo de armazenamento, a alma digital dessas pessoas tem o potencial de ser imortal. A pergunta que fica é: queremos mesmo que tudo o que fizemos online - comentários intempestivos, fotos tiradas por celulares ou hábitos de navegação embaraçosos - esteja preservado para a posteridade? A discussão divide opiniões. Os chamados "preservacionistas" acreditam que devemos isso aos nossos descendentes. Eles são contestados por aqueles que ficaram conhecidos como "deletionistas", que defendem que a internet precisa aprender a esquecer. Os dois grupos estão caminhando para uma disputa sobre o futuro da web - e o que está em jogo é o destino de nossas almas digitais.

Já existem entusiastas que tentam garantir que nosso legado digital continue vivo para sempre. Um deles é Jason Scott, cineasta americano que tentou salvar informações do Geocities, vasta coleção de sites pessoais. Criado em 1994, o serviço permitia que qualquer pessoa criasse uma página na internet, geralmente usando um clipart brega, efeitos exagerados em textos e templates que parecem amadores para os dias de hoje. Com o lançamento de novos serviços, o Geocities acabou perdendo espaço e foi abandonado pelos usuários. Em 2009, depois de mais de uma década de negligência, o Yahoo!, dono do site, decidiu acabar com a maior parte das páginas. A ameaça horrorizou Scott. Ele e outros "preservacionistas" resgataram às pressas a maior quantidade possível de páginas do Geocities e criaram um arquivo de 641 GB que circulou em redes de troca de arquivos antes de ser republicado no endereço reocities.com.

Mas por que essa preocupação em salvar informações sem relevância para a maioria das pessoas? Para Scott, a resposta é simples: trata-se de uma parte da história que poderá ser estudada por sociólogos, arqueólogos e antropólogos. O Geocities é uma cápsula do tempo gigantesca que mostra a infância da web. Mais importante, o caso mostra que outros sites devem (e certamente vão) seguir o mesmo caminho do Geocities. Qualquer empresa de tecnologia pode ser rapidamente superada por competidores ou abandonada pelos clientes. Tome como exemplo o caso da IBM, da Microsoft e do Orkut, que já foram considerados os maiorais em seus mercados. Hoje, empresas como Facebook fornecem serviços gratuitos e armazenamento em seus servidores. Em troca, registram suas atividades online e vendem publicidade usando as informações pessoais fornecidas no cadastro. O problema é que, um dia, a empresa de Mark Zuckerberg pode encontrar novas maneiras de ganhar dinheiro - e, com isso, optar por deletar suas fotos pessoais.

Para evitar que seus dados pessoais fiquem na mão de terceiros, surgiu uma nova categoria de redes sociais que ajuda a organizar informações pessoais enquanto garante que manteremos o controle sobre elas. A Diaspora, de São Francisco, é uma das empresas que vêm ganhando muitos usuários nos Estados Unidos. Seu diferencial? Dados, fotos e vídeos rodam em servidores mantidos pelos próprios usuários. É completamente diferente do Facebook, que é dono dos seus servidores e, logo, controla tudo no seu perfil. A desvantagem da Diaspora e das outras redes sociais do tipo "faça você mesmo" é que você precisa manter o servidor em funcionamento. Se ele travar, seu legado digital poderá desaparecer rapidamente.


Direito de ser esquecido

Ainda que tenhamos mais controle sobre nossos perfis, será que devemos buscar a qualquer custo essa necessidade de preservar? Nem sempre. "O esquecimento faz parte do cérebro humano", diz Viktor Mayer-Schönberger, do instituto de internet de Oxford, no Reino Unido. "Desenvolvemos maneiras para preservar somente as nossas memórias especiais." Hoje, é mais rápido e fácil salvar todos os pequenos bits dos nossos rastros digitais do que analisá-los e eliminar o que não queremos. Em outras palavras, estamos produzindo mais memórias do que podemos lidar.

As consequências de lembrarmos tudo o tempo todo podem ser desastrosas. O Facebook vem testando esporadicamente a função "histórias memoráveis". De quando em quando, o site exibe atualizações antigas de status escrito por você ou por um amigo. A reação, claro, foi de espanto. Alguns usuários não sabiam o que fazer com essa repentina volta ao passado. Às vezes, fica até difícil lembrar-se do que se trata o assunto. Em outras, o post traz à tona algo que seria melhor não lembrar, como o final traumático de um relacionamento. Existem casos ainda mais graves. “Uma mulher contou num programa de rádio que a sua condenação criminal foi revelada online”, disse Mayer-Schönberger. “Foi um post que um conhecido fez.” É difícil perdoar quando você não pode mais esquecer.

Em seu livro Delete, Mayer-Schönberger propõe a criação de uma tecnologia que esqueça graciosamente algumas informações. Arquivos podem ser publicados com data de validade para que sumam num dado momento. Algumas empresas começaram a testar a ideia. Em janeiro, uma startup alemã chamada X-Pire lançou um software que deixa você colocar data de validade nas fotos publicadas em sites como Facebook. No dia definido, as imagens ficam invisíveis. Isso significa que seus amigos vão poder ver as fotos na manhã seguinte à noitada animada, mas você não vai precisar se preocupar se um chefe procurar pelo seu nome anos depois.

Se não podemos apagar os dados, podemos escondêlos. Em fevereiro, depois de várias reclamações para a agência de proteção de dados da Espanha, um tribunal determinou que o Google removesse 100 links de sua base de dados por conter artigos de jornais e registros públicos desatualizados. O Google se recusou a obedecer, mas o "direito de ser esquecido" está definido como meta na estratégia de proteção dos dados da União Europeia de 2011.
Isso significa que novos e maiores casos devem acontecer. As memórias que estamos deixando para trás - tuítes embriagados, fotos com o cabelo desgrenhado - podem ser tornar um baú de ouro a ser explorado e estudado por historiadores durante muitos anos. A internet de hoje retrata a raça humana como nunca antes na história.



NOTA: