Hoje estava andando pela praia e me veio à cabeça este grande insight, rs: “formação de professores” é a expressão politicamente correta, que inclusive uso, mas dá uma sensação de que os professores são deformados, não? De que temos uma forma pronta para formatar todos. Caberia perguntar aos professores se eles querem ser “formados” e, principalmente, para que forma.
A expressão politicamente correta em inglês, hoje, é Professional Development, que está mais próxima do campo semântico de aperfeiçoamento do que de formação.
Mas tem outro grande insight, mais antigo: é incrível como hoje todo mundo se considera preparado e capaz de formar professores no uso de tecnologias me educação (às vezes só porque sabe mexer em um software ou é apaixonado por tecnologia), todo mundo tem um coelho na cartola, um curso prontinho na cabeça, uma ideia de como os professores devem ser, em que eles devem se transformar, um discurso pronto sobre a “resistência” dos professores, um clichê sobre a zona de conforto, o que está errado na educação, uma revolução!
Todo mundo é capaz de rabiscar uma rota de formação de professores em minutos, seguro de que aquele é o melhor caminho, sem mesmo ter dado aula ou tendo tido um mínimo contato com alunos.
Mas valeria a pena ouvir só um pouquinho os professores, não? Saber o que eles querem, do que eles precisam. Este é um dos princípios do design educacional: analisar os aprendizes e seu contexto. Mas não, queremos mudar, enxergamos perfeitamente (de fora) o que está errado e como as coisas deveriam ser, ignorando o que os próprios professores pedem – afinal, se as coisas estão erradas, eles por consequência pedem errado, querem naturalmente continuar com o status quo, qualquer demanda deles é um sinal de resistência, e é preciso mudar, mudar para a nossa visão.
Cabe saber se queremos formar o outro, de acordo com as suas necessidades, ou reformar a nós mesmos, projetando no outro o que queremos mudar em nós. Mas o princípio básico da alteridade diz: eu sou eu, o outro é o outro.
Nunca estamos prontos, somos metamorfoses ambulantes, mas não precisamos necessariamente nos transformar no sonho dos outros. Nossa visão tem também que ser ouvida. Demonizar os professores não é a solução para a educação, mas um movimento na direção da tirania da formação.